Espaçamento x época de cultivo x cultivares
A irregularidade do início das chuvas na Safra 2020/2021, característica do fenômeno climático La Niña, está atrasando a semeadura da soja e comprometendo algumas áreas de algodão que serão semeadas na segunda safra (janeiro e fevereiro) em alguns estados da região Centro-Oeste. Com isso, as estratégias de implantação das lavouras de algodão precisam ser ajustadas de acordo com as características climáticas de cada micro-clima, como a definição do espaçamento de cultivo. Lavouras mais abertas devem ser preconizadas quando a semeadura ocorre dentro da janela ideal (até 20 de janeiro em Mato Grosso) ou quando o ambiente é muito favorável à ocorrência de doenças de difícil controle como ramulária e mancha-alvo. Assim, dosséis mais arejados tendem a melhorar a eficiência de controle dessas doenças, através da penetração de luz na parte inferior do dossel, o que resulta em melhor retenção das estruturas frutíferas. Além disso, é preciso considerar que a disponibilidade de radiação é maior no início do verão e diminui a partir de meados de abril (outono) e é mínima no inverno. Muitas vezes o excesso de chuvas e dias nublados no início do ciclo resulta em radiação disponível às plantas similar ao que ocorre no fim da estação chuvosa, e nesse caso a disponibilidade hídrica será determinante do aproveitamento da radiação e ganhos em produtividade. Lavouras mais espaçadas levam mais tempo para fechar o dossel e interceptar toda radiação que chega até o solo, logo o acúmulo de biomassa é mais lento, o que é compensado pela maior janela de cultivo. Por outro lado, quando a semeadura ocorre fora da janela adequada (após 25/01 em regiões que têm histórico de corte de chuvas em meados de abril – áreas da BR163; ou após 10/02 em regiões que chove até mais tarde – Sapezal e Campo Novo do Parecis, por exemplo) há de se considerar que se faltar umidade no solo, a planta terá menos nós reprodutivos, o que pode ser compensado pelo aumento do número de plantas por metro quadrado. A redução do espaçamento (de 0,90 para 0,80 ou 0,76 m) antecipará o fechamento do dossel e, portanto, a interceptação de 100% da radiação incidente e a conversão em biomassa, o que ajustará o ciclo da cultivar ao clima da região. O aumento da densidade de plantas também é uma estratégia que deve ser considerada para compensar a menor produtividade de cada planta (considerando também o aumento do custo com sementes), porém o excesso de plantas pode aumentar o consumo de água, uma vez que a transpiração é a principal perda de água após o início do florescimento devido á grande área foliar. O sucesso da lavoura em espaçamentos mais estreitos depende da quantidade de água armazenada no solo e do regime de chuvas, pois se março e abril forem muito chuvosos, e se a planta não for controlada adequadamente com regulador de crescimento haverá abortamento de frutos do baixeiro e a janela de compensação será curta se as chuvas não vierem em maio. Outro cenário possível é quando chove até mais tarde (meados de maio ou até junho) e caso as temperaturas não caiam muito, há grande chance de pegamento de frutos nos terços inferior, médio e superior. Mas tudo vai depender do controle da área foliar, uma vez que o abortamento causado pela baixa radiação nos meses de março e abril no baixeiro pode limitar o potencial produtivo.
Cultivares – O posicionamento adequado das cultivares em função da época de semeadura também deve ser considerado, pois se a janela de cultivo for longa, o desempenho é melhor para cultivares tardias ou média-tardias ao passo que se a janela é curta as cultivares médias e precoces apresentam vantagem por terem janela de florescimento mais curta.
Por Fábio Rafael Echer, Doutor em Agronomia e professor na Unoeste em Presidente Prudente-SP